Existe diferença entre meteoros e cometas?!
- Daniel Rutkowski Soler
- Mar 3, 2023
- 4 min read
Updated: Mar 6, 2023
Existe uma confusão muito comum a respeito desse tema!
Muitas pessoas realmente confundem meteoros e cometas.
Você acha que é uma delas? Então assista ao vídeo abaixo:
Campanha de conscientização da Justiça Eleitoral, produzida e divulgada no ano de 2008.
Você o assistiu? Então me responda: aquilo que passou no céu era um meteoro ou um cometa?
Se sua resposta foi cometa… infelizmente, você errou… 😊
Mas não se sinta mal por isso, pois você não está só. Experimente mostrar esse vídeo para outras pessoas, e veja o que elas respondem. Você, provavelmente, se sentirá parte de um grupo grande de pessoas.
Cometas
Cometas são corpos que, mesmo quando se aproximam da Terra, não ficam a menos de, geralmente, milhões de quilômetros dela.
A parte sólida de um cometa, que chamamos de núcleo, é feita de “gelo sujo” (sujo de quê? De todos os tamanhos de grãos de pedras, de metais, etc… restos da época em que o Sistema Solar se formou!), tem forma irregular e mede vários quilômetros. Se um cometa caísse na Terra, teria seguramente o poder de destruir uma cidade inteira.

Imagem do núcleo do cometa Halley, obtida pela sonda espacial europeia Giotto, na sua última passagem próxima ao planeta Terra em 1986.
Cometas formam imensas caudas quando chegam perto do Sol (que é o caso quando se aproximam da Terra). A energia vinda do Sol é a responsável pela formação da cauda: ocorre tanto o derretimento do gelo quando a liberação de pequenas partículas que constituem o núcleo do cometa.

Foto, tirada no Chile, do cometa McNaught, que ficou visível no Céu no início do ano de 2007.
Mas a grande questão, que quero enfatizar aqui, é que, quando os cometas estão visíveis a olho nu no céu, por estarem a milhões de quilômetros da Terra, levam vários e vários dias para passar por ela. Para aí então não serem mais vistos a olho nu.
Assim, numa mesma noite, se você vê um cometa na direção de uma certa constelação, continuará o vendo durante toda a noite. Ou, pelo menos, durante todo o tempo em que essa constelação estiver acima do horizonte naquela noite (tipicamente algumas horas).
Reforçando: entenda que um cometa sempre parece parado em relação às estrelas. Ele cruza o céu, de leste para oeste (devido à rotação da Terra), junto de todas as estrelas.
Demora dias e dias para vermos um cometa sair da direção de uma constelação, e passar a ficar na direção de uma outra. Numa noite, tal movimento é imperceptível a olho nu.

Mapa celeste ilustrando a passagem do cometa 45P/HMP através das constelações de Sagitário, Capricórnio e Aquário, ao longo de várias semanas.
Meteoros, Meteoroides e Meteoritos
Agora, caso você tenha respondido, acertadamente, que aquilo que passou no céu no vídeo era um meteoro, saiba que aquele não era um meteoro qualquer.
Os meteoros mais comuns são aquilo que costumamos chamar de estrelas cadentes.
São pequenos pontos de luz que “rasgam” o céu em poucos segundos, a altas velocidades. Parecendo mesmo com estrelas que se “soltaram” do céu e que caíram.
Os meteoros se formam pertinho da gente, “dentro da Terra”, na atmosfera da Terra (a camada de gases que envolve o planeta), a alturas de apenas dezenas a centenas de quilômetros.
Quando uma pedrinha, às vezes até menor do que um grão de arroz, a qual chamamos de meteoroide, cruza o caminho da Terra, ela acaba então entrando em contato com a atmosfera.
Como a velocidade de queda é alta, o atrito entre o ar e o meteoroide é muito grande, e isso faz com que ele se aqueça e comece a brilhar: é esse brilho se movendo no céu, esse rastro de luz, que chamamos de meteoro!
Filmagem da chuva de meteoros chamada de Perseidas.
Note então que meteoro é o nome que se dá para o rastro de luz que ocorre na atmosfera. Meteoroide é o nome do pequeno objeto que vem do espaço, e que atravessa a atmosfera, formando o meteoro.
Se o meteoroide for muito pequeno, ele acaba se desfazendo lá no alto da atmosfera. Por isso que, geralmente, vemos a estrela cadente desaparecer. Bem antes que ela pudesse chegar no chão.
Agora, se o meteoroide não for tão pequeno assim, aí acontece aquilo que você viu no vídeo: o atrito do ar com o meteoroide acaba dando origem a uma verdadeira “bola de fogo” no céu (em inglês, fireball). Essas bolas de fogo conseguem ficar um pouquinho mais de tempo no céu (muitos segundos), e às vezes até conseguimos ouvir o barulho delas cruzando a atmosfera!
Alguns desses meteoroides, inclusive, são até grandes o suficiente para não se desfazer totalmente no céu, devido ao atrito com a atmosfera, e aí uma parte deles acaba conseguindo chegar no chão de verdade.
A esse resto “sobrevivente” de meteoroide, que chega ao solo e pode ser coletado por nós, damos então o nome de meteorito. Em geral, meteoritos acabam também formando crateras no chão onde caem.
Ficou clara a diferença entre cometas e meteoros? E a diferença entre meteoros, meteoroides e meteoritos?
Mais algumas curiosidades
Bom, pra finalizar, falta falar de uma coisa que une cometas e meteoros: geralmente, os meteoroides que cruzam o caminho da Terra são restos de cometas. Lembra do gelo sujo? Esses restos dos cometas acabam ficando soltos no espaço, e com o tempo acabam cruzando o caminho da Terra.
Legal essa ligação, não é? Existem, inclusive, chuvas de meteoros que ocorrem todos os anos, sempre na mesma época. Tais chuvas ocorrem justamente porque a Terra cruza regiões do espaço onde há restos de cometas específicos, que sempre passam perto dela, numa mesma órbita ao redor do Sol, periodicamente.

Ilustração, fora de escala, da órbita do cometa Ikeya-Zhang, que passou perto da Terra em 2002. Note como demora semanas para ele se movimentar ao redor do Sol.
Assim, por exemplo, a chuva de meteoros que costuma acontecer entre os dias 19 de Abril e 28 de Maio, com pico nos primeiros dias de Maio, com meteoros emergindo aparentemente da direção da constelação de Aquário (daí o nome Aquáridas, Eta Aquáridas pra ser mais preciso, já que há outras Aquáridas), são sempre devido a meteoroides que se desprenderam do famoso cometa Halley, nas últimas vezes em que ele passou perto do nosso planeta.
Uma última curiosidade: o nome meteoro, que damos às estrelas cadentes, na verdade tem um significado muito mais abrangente. Podemos chamar de meteoro todo o fenômeno luminoso ou sonoro que ocorre na atmosfera. Assim, chuva, arco-íris, raios, trovões, tudo isso também pode ser chamado de meteoro!
Note que não chamamos de Meteorologia a ciência que só estuda as estrelas cadentes, não é mesmo? 😉
Um abraço e até a próxima!
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